quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Para que ninguém quisesse




             É bem curioso o que acontece com as pessoas.
             Alguém encontra outro alguém e se encanta .Se encanta com a beleza,o charme,a simpatia,o sorriso,a inteligência.....
             Começa então o jogo da sedução até que acabam juntos.
             Não demora muito e aquele que se encantou pelo jeito do outro, logo quer modificar aquilo que ele tanto gostou e que o atraiu.Aos poucos consegue tirar todo o brilho que um dia o atraíra.Sem o brilho,ele próprio se desencanta.Vai entender o egoísmo e a "burrice" de certos indivíduos.
              É exatamente sobre isso que Marina Colasanti fala em seu lindo texto que transcrevo abaixo:

 Para que ninguém a quisesse
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido em uma gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
              

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