segunda-feira, 20 de maio de 2013

Christiania,na Dinamarca.



           Lendo algo sobre Milton Nascimento, chamou-me a atenção a seguinte afirmação dele:
          “Depois do Brasil, o país que mais gosto de fazer shows é a Dinamarca. Copenhague é incrível e os dinamarqueses são de uma gentileza que vejo em poucas cidades europeias. Mas um dos meus lugares favoritos é Christiania.  É um bairro autoproclamado autônomo e sustentável. Não tem prefeito, não tem eleição, funciona sem governo e sem imposição de leis que controlem a organização social”.

      Fui então pesquisar mais a respeito de um local assim tão especial.
    No coração gelado do capitalismo europeu, na fria Copenhagen, Dinamarca, uma comunidade de 10 mil pessoas vive num outro compasso.

  A lenda da cidade-livre da Dinamarca é real: inspirada no Anarquismo, Christiania resiste há mais de 20 anos, inventando um jeito novo de conviver com os problemas da vida comunitária. Limpeza das ruas, rede de esgoto, manutenção dos serviços básicos, tudo é decidido e feito a partir de reuniões entre os moradores da cidade.





        Eles se definem como uma comunidade ecologicamente orientada, com uma economia discreta e muita autogestão, sem hierarquia estabelecida e o máximo de liberdade e poder para o indivíduo. Uma verdadeira democracia popular direta, onde o bom senso e o diálogo substituem as leis. No Brasil, poucos conhecem a história da cidade-livre.
        Christiania começou a escrever sua história em 1971. Foi a partir das idéias de um jornal alternativo, o Head Magazine, que um grupo de pessoas, de idades e classes sociais variadas, decidiu ocupar os barracos de uma área militar desativada na periferia de Copenhagen. Era o início de uma luta incansável contra o Estado.A polícia tentou várias vezes expulsar os invasores da área, mas sem sucesso. Christiania virou um problema político, sendo discutida no parlamento dinamarquês. A primeira vitória veio com o reconhecimento da cidade-livre como um “experimento social”, em troca do pagamento das contas de luz e água, até então a cargo dos militares, proprietários da área. O Parlamento decidiu que o experimento Christiania continuaria até a conclusão de um concurso público destinado a encontrar usos para a área ocupada.

      Em 73 houve troca de governo na Dinamarca e a situação de radicalizou: o plano agora era expulsar todos e fechar o local. O governo decretou que a área seria esvaziada até o dia 1º de abril de 1976. Na última hora, o Parlamento decidiu adiar o fechamento de Christiania. A população da cidade-livre tinha se mobilizado para o confronto com o Estado, mas a guerra não aconteceu. O dia 1º de abril tornou-se o dia de uma grande manifestação da Dinamarca Alternativa. Ao longo dos anos, a cidade-livre aprimorou sua autogestão: casa comunitária de banhos, creche e jardim de infância, coleta e reciclagem de lixo; equipes de ferreiros para fazer aquecedores a lenha de barris velhos, lojas e fábricas comunitárias de bicicletas.


                                                    CASA DE VIDRO

                                    LEIS COMUNS


FONTE:ANARQUISTA NET.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Que presente te dar?



        Dentre as crônicas de amor e outros afetos, do escritor Affonso Romano de Sant'Anna, escolhi uma das mais lindas para mostrar a vocês. Como esse autor escreve,meu Deus!!!



      Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular?
      Deveria desatar  inúmeros presentes ao  pé da  árvore, entreabrindo  jóias, tecidos, requintados e pessoais objetos, ou deveria dar-te o que não posso buscar lá fora, mas o que em mim está fechado e mal sei desembrulhar?
      Gostaria de dar-te coisas  naturais, feitas com a mão, como fazem os camponeses, os artesãos, como faz a mulher que ama e prepara o Natal com seus dedos e receitas, adornos e atenção.
      Te dar, talvez, um pedaço de praia primitiva, como aquelas do  Nordeste, ou de antigamente- Búzios e Cabo Frio; um pedaço de mar das Ilhas do Caribe, onde a água e o amor são transparentes e onde a areia é fina e brilhante e, sozinhos, habitam a eternidade, os amantes.
      Te dar aquele verso de canção um dia ouvida não sei mais aonde,
se numa tarde de chuva, se entre os lençóis cansados;  um verso, 
uma  canção ou talvez o puro som de um saxofone ao  fim do dia, 
som que  tem qualquer coisa de promessa e melancolia.
      Fugir uma tarde contigo para os motéis, quando todos os homens se perdem nos papéis e escritórios, números e tensões; fugir contigo para uma tarde assim, um espaço de amor entreaberto na peça que nos prega a burocracia dos gestos.
      Gravar numa fita as canções que me fazem lembrar de ti e ouví-las, ou tocar de algum modo, em algum cassete as frases que disseste, que em mim gravaste: frases líricas, precisas, que quando estou cinza, relembro e me iluminam.
      Te enviar todos os cartões que colecionas, de todos os lugares que conheço ou que tu nem imaginas, ir a essas paisagens e ilhas e habitá-las com os selos e palavras de intermitente paixão.
      Dar-te aquela casa de campo entre montanhas, aquele amor entre a neblina, aquele espaço fora do mundo, fora de outros espaços, sem telefone, sem estranhas ligações, para ali nos ligarmos um no outro em
una e dupla solidão.
       Se queres jóias, te darei. Aqueles corais que vendem na Ponte Vecchia, em Florença; o âmbar ou as pérolas que expõem nas lojas do Havaí; aquelas pedras de vidro para iridescentes colares, que vendem em Atenas, ao pé da Plaka, ao pé da Acrópole, que amorosa nos contempla.
      Te dar numa viagem os castelos do Loire, e sair comendo e rindo juntos no roteiro gastronômico franco-italiano; ali comendo e aqueles vinhos bebendo, de tudo nos esquecendo, sobretudo dos remorsos tropicais
de quem tem sempre ao lado um faminto desamparado, de culpa nos ferindo.
      Te darei flores. Sempre planejei fazer isto.
Tão simples: de manhã acordar displicente e começar a colher flores sob a cama. 
Ir  tirando  buquês de  rosas,  margaridas,  vasos  de íris,  orquídeas 
que estão desabrochando e, uma a uma, de flores ir te cumulando. 
E amanhecendo  dirás: o amado hoje está doce, seu amor aflorou e está perfumado.
      Escrever bilhetes pela casa inteira, metê-los entre as roupas, armários, prateleiras, pra que na minha ausência comeces a desdobrar recados daquele que nunca se ausentou, embora esse ar de quem vive partindo, mas, se alguma vez partiu ,partido foi para reunido regressar.
      Te dar um gesto simples. Passar a mão de repente sobre tua mão, 
como se apalpa a  vida ou fruto que pede para ser colhido.
      Te dar um olhar, não aquele olhar distraído, alienado de quem está 
nas coisas prosaícas perdido, mas um olhar de quem chegou  inteiro
e que se entrega enternecido e desamparado dizendo: 
olha,  sou  teu,  agora  veja  lá o  que  vai  fazer  comigo! 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

"Refletindo sobre a maturidade"




Refletindo sobre a maturidade, sobre  o “envelhecer”, deparei-me com um testemunho maravilhoso e super interessante da editora e escritora ,chamada “patrona do feminismo brasileiro”, incluído no livro “Um outro envelhecer é possível” organizado por Lucia Ribeiro.        

                          TESTEMUNHO
                    (Rose Marie Murro)
      A velhice é o tempo melhor de minha vida: as melhores coisas me aconteceram depois dos 70 anos.
      Mas vivo uma esquizofrenia: a cabeça está a mil; e meu corpo, desmontando...  Porque sou duas pessoas; uma é a
pessoa física, que foi doente a vida inteira: nasci com uma doença nos olhos- miopia progressiva e degenerativa- e tive vários problemas de saúde. Nestes últimos anos estive três vezes em gravíssimo perigo de morte e continuo com dificuldade para me locomover.
      A outra é a pessoa psíquica; psiquicamente eu era muito infeliz, porque não tinha consciência de que era uma pessoa diferente. Vivia isolada e fui uma criança toda voltada para dentro; falei com 6 meses, aos 4 anos aprendi a ler sozinha e sempre fui  a primeira no colégio. Foi assim a minha vida inteira;
Todo mundo dizia: você não pode escrever, não pode casar. Mas me casei, tive cinco filhos e escrevi: foi a única coisa que eu soube fazer na vida. Sempre fiz tudo sozinha. Pouquíssimas pessoas me entenderam. Porque eu fazia tudo o que eu não podia e acabava dando certo.
      Vivi de perdas a minha vida inteira. Só comecei a ter ganhos quando percebi que eu era uma pessoa completamente diferente de todas as outras e rompi com todas as leis: aí eu comecei a ganhar.
      Tive cinco filhos e com as crianças eu fui feliz. Tudo dependia de mim, meu marido gastava todo o dinheiro e não ajudava em nada. Eu é que produzi minha própria sobrevivência, a de meus filhos e até a de meus netos: os que eram pobres, eu eduquei.     
  E eles sabiam que eu era uma boa mãe, que eu era mãe integral.
      Hoje tenho 5 filhos, doze netos e três bisnetos maravilhosos: é muita gente...E estão sempre perto de mim: uns me oferecem apoio financeiro, outros me oferecem cuidado. Tenho uma bisneta de 6 anos- adoro criança- e converso com ela que é uma beleza!
      Sempre trabalhei- para me manter e à minha família- e serei obrigada a trabalhar até meu último dia de vida. E o diabo é que eu não posso mexer com o computador. É preciso que alguém digite para mim, senão tudo se inviabiliza.
      Acabo de lançar um livro: “Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade”, com 356 páginas. Levei dez anos estudando, enquanto fazia outros livros, que eram mais simples, não tinham nem referências bibliográficas. Já , só para escrevê-lo, foram dois anos.
      E tem palestras! A próxima será próxima será sobre mulher e tecnologia, porque ninguém trabalha esse tema. E agora surgiu o problema das moedas complementares: estou me dedicando a essa moeda feminina e vendo a economia do ponto de vista das mulheres.
     Fui casada, me separei, tive muitos namorados. Agora estou vivendo com um companheiro 40 anos mais novo que eu. Essa relação se iniciou quando eu já tinha 70 e tantos anos; e foi por causa da Marguerite Duras que eu o aceitei, porque ela também viveu com um homem mais jovem e deu certo. Já faz 7 anos que a gente está junto. Ele mora em São Paulo; e eu, no Rio de Janeiro: não posso ter ninguém perto de mim. Nem ele. E eu sempre querendo acabar a relação- 40 anos de diferença!-, mas sempre seguimos em frente... Isso porque senti que ele era diferente. Agora a gente não pode mais ter transa física , porque minha saúde não permite. Mas a qualidade do amor é superior: é muito mais uma doação. E só com ele tomei consciência realmente de que ninguém é igual a mim. Aí então consegui entender minha vida. Norberto Bobbio, la vechiaia É uma merda...
      Mas nunca senti realmente isso porque vivo com a cabeça em outras coisas, na construção do futuro: eu sempre estou na ponta de meu tempo. Minha idade real sempre passou despercebida. Eu acho que velhice existe é na cabeça.
      Pintei os cabelos, porque estava sempre na televisão. E quando você está na mídia e tem cabelo branco, é sinal de que está declinando. Homem pode ter cabelo branco- porque é sábio- mulher, não! Então, resolvi: não vou fazer nenhuma plástica, mas vou pintar os cabelos, porque isso tem uma função. Se eu fosse casada, como minha irmã, com um companheiro de 50 anos... Se eu tirar a pintura do cabelo, acho que ficará branquinho; e quando eu estiver muito velha, vou pintar meus cabelos da cor do arco-íris, desde o vermelho até roxo...
      Velhice eu não sei o que é, nunca pensei nela. O que existe na vida é maturidade. Cara, eu me sinto com 15 anos, que negócio é esse de ser velha? Mas se eu não fosse velha, não entenderia nada: a realidade humana é muito mais profunda do que esta porcaria que a gente vive.
      A finitude começou a me perseguir faz uns 15 dias, porque vou fazer 80 anos.
      Quando eu era criança, a mulher de 40 anos já ficava fazendo companhia aos gatos e já era avó, não tinha nada o que fazer. Depois eram as mulheres de 50 , 60 anos, é que eram velhas; e até os 70 ainda era possível. Quando completei 70 anos, fiz três festas, em São Paulo, no Rio e em Brasília.
      Agora que eu vou fazer 80, de repente eu me dei conta  de que estou á beira de um abismo: você tem que morrer !Porque para mim 80 anos nunca existiram. Antes eu ignorava a velhice. Não existia. Estava tão ocupada com outras coisas, que nem via, nem percebia.
      Ainda estou acabando de “engolir” meus 80 anos. Vou fazer uma festa de 81-80 não, porque é muito convencional; vai ser uma festa de 81, porque oito mais um é nove, e noves fora zero: e aí começa tudo de novo. Vai ser chamada “ a festa do tombamento”. Aí eu viro um monumento nacional tombado...
      Acho que estou conseguindo aceitar a finitude. Tomei as rédeas nas mãos. Ela não me assusta mais como um monstro. Não se pode negar a realidade, negar para que?
      Às vezes me sinto uma mulher em declínio. Mas outras vezes acho que sou eterna. Parece que tenho 15, 20,30,50,60,80 anos: tudo junto. Porque todos nós temos a semente dessa eternidade.
      Vivo o dia a dia, seja o que for. Passou um dia, eu já fico feliz. Mas eu acho que assumi plenamente a finitude: estou muito curiosa para ver o que há depois da vida... Se não tiver nada, ótimo também, porque eu fiz tudo o que queria.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

A Cultura no não-litígio



      Considero importante que criemos meios e instrumentos para aliviar nosso Judiciário.
Acredito que o Secretário da Reforma Judiciário do Ministério Público, dá-nos algumas saídas.



A importância do Não- litígio na Reforma do Judiciário

Segundo Flavio Crocce Caetano, o atual secretário de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, temos que mudar a cultura.
No Brasil, é-nos ensinado na faculdade a cultura do litígio.Ficamos aptos a peticionar, recorrer, mas não aprendemos a fazer acordos, nem a negociar, transacionar,mediar.
Tudo isso nos leva a “emperrar” o judiciário com questões que poderiam ser resolvidas por meio de um acordo ,de uma conciliação.
Para tanto a proposta é que sejam introduzidos nos currículos das faculdades de direito, esse conteúdo de meios alternativos, que são quatro: negociação, mediação, conciliação e arbitragem. Em seguida esse conteúdo deveria ser incluído nos exames de ingresso às carreiras jurídicas: concursos para magistratura, Ministério Público, Defensoria  e
Exame de Ordem.O terceiro passo é que a disciplina integre  os cursos de formação, que são os ministrados pelas próprias instituições aos candidatos aprovados nos concursos. Em quarto lugar, é fundamental que seja criado um marco legal sobre conciliação e mediação. E quinto, que sejam aplicados na fase pré-processual por todos operadores do Direito.
Portanto, é importante que os advogados saibam utilizar esse meio para que não tenham que ir a juízo, os defensores públicos também, o Ministério Público a mesma coisa.
A idéia é que todos tenham esse instrumental à disposição para que se consiga evitar essa avalanche de processos no Poder Judiciário.