segunda-feira, 20 de março de 2023

ÍCONES

 

                                           Ícones



Cresci vendo o cantinho de ícones do meu pai.

Mesmo que não frequentasse a igreja todos os domingos, era um homem de fé.

Hoje, mesmo depois de sua morte, ficaram seus ícones , iluminados por uma lâmpada pequenina. Estão no sítio, onde era seu quarto.

Li um texto belíssimo que fala sobre os ícones e resolvi mostrar a vocês o sentido dos mesmos.

Segundo Jacques Lacarrière, “os ícones não são retratos. Jamais existiu retrato, representação antiga crível de Cristo, da Virgem, dos apóstolos, dos santos ou dos mátires.

Foi preciso, portanto, que mais tarde lhes dessem um rosto simbólico, que exprimisse o sentido de sua vida, sua fé, seus milagres ou seu martírio.

Foi preciso inventar o rosto dos anjos e arcanjos, de tal modo que a arte dos ícones tornou-se a arte de representar o invisível. Códigos e técnicas precisas logo tiveram que ser estabelecidos, para que o conjunto dessas figuras, habitantes do Reino invisível , obedecessem às mesmas marcas de identidade.

Sim, trata-se mesmo , desde o século IV de atribuir rosto, identidade e até mesmo o curriculum vitae a milhares de santos, mártires e padres da igreja.

Isso tudo confirma que o ícone nunca foi concebido ou considerado como obra de arte, mas sim obra de fé, uma oração das mãos e do coração, que exige do monge pintor um estado particular de pureza, graça e fervor.”

Hoje não são só monges que pintam ícones. Há os pintores que seguem a técnica.

O ícone é uma superfície pintada, lavrada- às vezes recoberta de prata-, um espelho onde vêm se refletir milhares de habitantes do reino.

Segundo o escritor, um monge do Monte Athos lhe explicou que a tradição impõe que se termine um ícone pela pupila. Vimos, com Platão, Sócrates e Alcebíades, essa famosa pupila transformar-se em espelho da alma. Reencontramos isso nos ícones, nos quais ela é uma faísca vive, que indica a presença do santo.

Para nós, que vemos os ícones como símbolo da fé, os mesmos podem deter poderosos mistérios e poderes.

FONTE: Jacques Lacarrière- Grécia , um olhar amoroso.



                                                                            Meus ícones




segunda-feira, 6 de março de 2023

PAVLOPETRI, ANTIGO POVOADO SUBMERSO EM ELAFONISSOS




 

PAVLOPETRI-ANTIGO ESTADO SUBMERSO EM ELAFONISSOS

Cada vez descubro mais motivos para visitar a Grécia mais e mais vezes.

Setecentos metros à nordeste de Elafonissos, surge uma ilha tão bela que é sempre visitada por aves marinhas. Seu nome é “PAVLOPETRI”, do qual toda a área circundante, recebeu o mesmo nome. O ilhéu de Pavlopetri, um segundo ilhéu rochoso a cerca de 400 m de distância e a costa de Punta, formam um triângulo isósceles no qual se conservam os restos de um povoado submerso, cujo início da existência remonta a 5000 anos.

Em 1904, o geólogo Fokionas Negris foi o primeiro a notar os restos arquitetônicos do assentamento afundado. Suas observações só foram confirmadas anos depois, quando o oceanógrafo Nicholas Flemming visitou a área. Redescobriu as ruínas do assentamento pré-histórico.

Os vestígios visíveis no sítio subaquático foram divididos em 10 setores, nos quais se distinguiram 15 casas constituídas por uma série de divisões, normalmente em número de cerca de 10. Se calcularmos que uma casa com 10 quartos albergava cerca de 20 pessoas entre crianças e adultos, chegamos a uma população de 600 habitantes. Porém o número real pode ter sido muito maior.

Entre as edificações, não há duas iguais, mas uma característica recorrente é uma grande sala central, geralmente retangular, que pode ser um pátio interno.

O tempo e o ambiente subaquático claramente deixaram suas marcas indeléveis nos restos do assentamento submerso. Assim, o que podemos ver hoje é apenas a vista de cima dos prédios da cidade. Isso porque apenas os alicerces das casas eram de pedra. Sobre esta base de pedra foram apoiadas as partes superiores das paredes que eram feitas de tijolos , ou seja, tijolos não cozidos de barro e palha que eram feitos com moldes e secados ao sol e ao ar. É por isso que, aparentemente, depois que o assentamento foi submerso, as paredes foram completamente destruídas. Essa forma de construção foi adotada em muitas outras partes do Peloponeso e a conhecemos há 50 anos.

Foram sendo feitos vários estudos e escavações ao longo dos anos  que não descreverei por serem muito técnicas.

Vocês podem encontrar alguns achados do assentamento no Museu Arqueológico de Pylos em Niokastro e também no Museu Arqueológico de Neapolis

 

Fonte: spacetime.gr






 

quarta-feira, 1 de março de 2023

CIGARRAS= tzitzikia ( em grego)

 


CIGARRAS= TZITZIKIA(em grego)

 

Desde a infância, sempre que eu vou à Grécia, país de minhas raízes, acabo visitando os parentes nos seus sítios. No verão muitas famílias viajam para a cidade natal, onde as famílias costumam ter seus olivais. O azeite consumido pelas famílias durante o ano provém de suas próprias oliveiras.

Faz muito calor no verão e, nos campos, se ouve um barulho intermitente que muitas vezes irrita os que não estão acostumados. São as cigarras. No singular se diz dzidzika, perfeita imitação do som emitido.

Quem poderia nos esclarecer sobre as cigarras é Platão que, numa passagem de Fedra, diz:

quando o canto das Musas se fez ouvir pela primeira vez na terra, os homens ficaram tão perturbados que se puseram a imitá-las a ponto de esquecerem de beber e comer. De tal modo que morreram antes mesmo de se darem conta. E deles nasceu a espécie das cigarras”.

Para os ouvidos de hoje , o canto das cigarras é mais repetitivo e monótono do que encantador. Mas os antigos gregos, evidentemente, não o escutavam com o mesmo ouvido: para eles, o canto das cigarras, longe de parecer lancinante, era portador de memória e, sobretudo, de mensagem. As cigarras eram as mensageiras das Musas da terra, e transmitiam aos deuses as homenagens que os homens lhes rendiam. Seu canto, que é emitido ao meio-dia, quando calor e a luz tornam o sol um braseiro vivo, era um canto de vigilância, dizendo, de certo modo, ao homem: “Desperta, acorda, desperta, acorda...”

Ruidosas, é certo, até enervantes, mas também vigilantes e mesmo professoras, para os gregos estas eram a natureza e a razão de ser das cigarras.

Conheci esse lado interessante do “dzidzicas”, através de um livro maravilhoso que me foi presenteado por um amigo, amante da Grécia: “Um olhar amoroso”, de Jacques Lacarrière.

Lendo o texto sobre cigarras me veio à lembrança o quanto esse barulhinho me irritava mas, hoje, sinto falta.

 Fonte: "Grécia, um olhar amoroso"- Jacques Lacarrière