quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A MALA




Qual a sensação de vocês ao olharem para essa foto???
Duvido que seja igual a minha.
Voltando algumas décadas, relembramos de vários imigrantes europeus chegando ao Brasil.
Vinham em navios onde levavam dias para chegarem a um país totalmente desconhecido onde
seus sonhos se realizariam, suas vidas tomariam novo rumo já que se tratava de um país novo que precisava de mão de obra.
Já contei a vocês em outro texto sobre a imigração e sobre como recebiam os estrangeiros que ali chegavam.
Pulemos essa parte e cheguemos aos antigos casarões de portugueses, transformados em espécie de pensões, que recebiam os imigrantes.
Não foi diferente com meus pais que acabaram num desses casarões, lá na Rua Conde São Joaquim, no bairro da Liberdade.
Era de um português simpático, segundo minha mãe, que carinhosamente iniciou meus pais na língua portuguesa.
Havia vários quartos, uma cozinha coletiva e um banheiro, pasmem!
Cada quarto, geralmente recebia uma família.
Eu já vinha na "barriguinha" da mamãe, depois de vários dias no navio Provence.
Que gente corajosa. País desconhecido,idioma desconhecido, nada de grana ,nem de amigos.
Só coragem e muita garra.
Depois de poucos meses, chego eu, mais uma moradora do tal quartinho!
Berço? Nem pensar!
Qual a saída que minha mãe encontrou?
Exatamente transformar uma das suas grandes malas em bercinho para mim.
Daí o fato dessa foto acima me despertar  tantos sentimentos: começo de vida, luta, carinho, aconchego, vitória....
Tenho certeza que ela forrou a mala com o melhor dos seus lençóis que deve ter bordado sozinha.
Vai ver que minha paixão por viajar foi despertada por esse meu primeiro abrigo: minha mala-berço. Daí por diante, a luta foi grande mas o que é isso para aquele casal maluquinho e empreendedor?
Minhas remotas lembranças desse tempo são os amigos, também gregos, que habitavam o primeiro quarto à direita, a grande cozinha com um "fogãozão" coletivo onde todos cozinhavam juntos. Ahhh, e aquele filtro que ficava numa prateleirinha no alto e que me obrigava a subir no banquinho , quando cresci um pouco(uns 2 aninhos de vida).
Logo meus pais compraram minha caminha de solteiro mas nunca poderia me esquecer da mala, fato que minha mãe me contou várias vezes nessa vida. Detalhe: eu cabia direitinho na mala que era bem maior que essa da foto!!!


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