Hoje, conversando com uma querida amiga grega que já viveu
no Brasil, senti algo diferente .
Desde pequena aprendi a admirar a cultura grega, o povo tão
altivo e orgulhoso, a noção de cidadania, o saber viver e ser feliz em
quaisquer circunstâncias.
Percebi um ar de desesperança , resultado de uma situação deveras
preocupante em que o país se encontra.
Lembrei-me de um texto que escrevi na adolescência que
demonstrava o quanto eu sempre admirei a Grécia, onde estão minhas raízes.
Acredito que nenhuma situação, por mais difícil que seja,
apagará esse meu "sentir" em relação ao país dos meus pais.
Transcreverei abaixo,exatamente como escrevi, ainda menina,
o que a Grécia significa para mim e para muita gente nesse mundão .
Quais seriam esses grandes países? Os Estados Unidos com
toda sua riqueza e poder, o Japão com sua tecnologia, a Itália com sua linda
basílica em Roma, o Egito e suas famosas pirâmides? ( a escolha depende do
coração de cada um).
O grande país dos meus sonhos, é mínimo em extensão
territorial; tem apenas o número de habitantes da cidade de São Paulo, não é
dono de riquezas materiais tampouco de armas nucleares, bombas atômicas e
foguetes.
O seu patrimônio único é a cultura, a sabedoria com a qual
presenteou o mundo todo.
Meu pequeno país gigante lançou bases, construiu alicerces,
esparramou raízes culturais desconhecendo fronteiras.
Nenhuma guerra, terremoto ou maremoto conseguiu sequer
abalar a herança por ele legada.
Agora, deprezado e desvalorizado por alguns, armazena em si
uma magia infinita, visível apenas pelos que possuem o amor no coração e
carinho no olhar.
Mesmo sem influência política, sem desenvolvimento, sem
grande área territorial, mostra-se presente a todo instante, irradiando
"luz" sem distinguir países, raças ou religiões.
A Grécia, sonho real, sobrevive a todos desenvolvimentos
tecnológicos tendo como cúmplice, um povo simples, expontâneo, altivo, sem
grandes pretensões mas com muita sede de vida.
Bonito é viver ao lado de quem é feliz sem o carro do ano,
sem mansões, sem casacos de pele.
Bonito é sentir-se feliz dançando em seu próprio minúsculo
quintal, sob um céu estrelado ao som de músicas que fazem ferver cada pedacinho
do nosso corpo.
Delicioso é poder sentar-se ao lado dessa gente alegre que
valoriza seu direito de gozar a vida.
Gente que goza a vida quando pode conversar com os amigos
nas pracinhas ensolaradas, nos cafés, onde as árvores são testemunhas caladas
de alegrias e dissabores.
Nem mesmo escravizado pelos otomanos durante quatro séculos,
o povo helênico perdeu seu orgulho. Sua cabeça continua ereta. O simples
lavrador, o simples cobrador de ônibus, o simples garçom, desconhece a palavra
"inferioridade". Falam todos de igual para igual não se incomodando
com as camadas sociais.
Não importa ter um carro velho, batendo pinos e mesmo com
alguns arranhões. Importa sim, e muito, encher este carro com a família, os
amigos e dirigir-se a qualquer praia. O mar cristalino e azul receberá com amor
os ocupantes do velho carrinho, com o mesmo amor com que receberá os "finos" passageiros das Mercedes
do ano, dirigidas por motoristas particulares.
O mar límpido, o céu azul e as praias habitadas por
pedrinhas coloridas não aprenderam a diferenciar a mão calejada do lavrador da
mão macia do rico armador.
Quem não se emocionaria em passar alguns momentos, muitos
momentos até, ouvindo velhas estórias contadas por algum singelo pescador
perdido em alguma minúscula ilha do acolhedor Egeu?
Essa emoção só teria
como testemunhos o mar de um azul profundo e o céu claro servindo de teto e
abrigo para as casinhas caiadas de um branco imaculado.
As ruelas estreitas que dividem as casinhas são armas de defesa
lutando para manter os vizinhos unidos, amigos e participantes.
Sinto que estar na Grécia, viver ao lado desse povo de
sangue inflamado, de muita fibra-que é confundida com grosseria pelos menos
sensíveis- é ter o privilégio de se sentir livre, de evoluir espiritualmente,
de participar de uma missão. Estar com esse povo é tentar resolver os problemas
que afligem nossas almas e não a política mundial, a economia ou coisa que o
valha.
Quando digo participar de uma missão, entendo que o ideal
helênico sobrevive e continuará intocável sobrepondo-se a sentimentos menores
de ambição, poder, egoísmo e competição.
O mesmo amor e sabedoria que recebemos dos helenos há
milênios, poderão ser poderosas armas capazes de decepar mãos que tentam
destruir o homem, não o corpo humano, o ser humano.
Trata-se de uma praia em kalamata,cidade do sul da Grécia,que fica em frente a um hotel de luxo.
É permitida a entrada de todos sem distinção e sem cobrança.
Existe uma taxa de 3 euros para alugar cadeira,guarda-sol e mesinha.
Com poucas palavras e vc, Εκάτη, nos transforma em seus leitores, hipnotizados por suas palavras...
ResponderExcluirObrigada Gabriel.Fico feliz por ter gostado do texto.Volte sempre.Um abraço.
ExcluirSeja bem vindo Gabriel.
ResponderExcluirAbraço
Amo a Grécia desde criança e cada vez que vou rever as montanhas,o mar,o céu e aquele mar azul, lembro do meu pai que nos meus 5 anos me presenteou com um livro ,que na capa estava ilustrado o Partenon. Nem preciso dizer que foi amor a primeira vista! E você com esta crônica me emocionou e me trouxe doces recordações e com elas a saudade do aroma da Grécia. Για μας
ResponderExcluirParabéns, Tacia. Muito amor e admiração pela terra de suas raízes.
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