segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Grandes Países?




Hoje, conversando com uma querida amiga grega que já viveu no Brasil, senti algo diferente .
Desde pequena aprendi a admirar a cultura grega, o povo tão altivo e orgulhoso, a noção de cidadania, o saber viver e ser feliz em quaisquer circunstâncias.
Percebi um ar de desesperança  , resultado de uma situação deveras preocupante em que o país se encontra.
Lembrei-me de um texto que escrevi na adolescência que demonstrava o quanto eu sempre admirei a Grécia, onde estão minhas raízes.
Acredito que nenhuma situação, por mais difícil que seja, apagará esse meu "sentir" em relação ao país dos meus pais.
Transcreverei abaixo,exatamente como escrevi, ainda menina, o que a Grécia significa para mim e para muita gente nesse mundão .


 "Grandes Países" são lugar comum nos sonhos de diversas pessoas.
Quais seriam esses grandes países? Os Estados Unidos com toda sua riqueza e poder, o Japão com sua tecnologia, a Itália com sua linda basílica em Roma, o Egito e suas famosas pirâmides? ( a escolha depende do coração de cada um).
O grande país dos meus sonhos, é mínimo em extensão territorial; tem apenas o número de habitantes da cidade de São Paulo, não é dono de riquezas materiais tampouco de armas nucleares, bombas atômicas e foguetes.
O seu patrimônio único é a cultura, a sabedoria com a qual presenteou o mundo todo.
Meu pequeno país gigante lançou bases, construiu alicerces, esparramou raízes culturais desconhecendo fronteiras.
Nenhuma guerra, terremoto ou maremoto conseguiu sequer abalar a herança por ele legada.
Agora, deprezado e desvalorizado por alguns, armazena em si uma magia infinita, visível apenas pelos que possuem o amor no coração e carinho no olhar.
Mesmo sem influência política, sem desenvolvimento, sem grande área territorial, mostra-se presente a todo instante, irradiando "luz" sem distinguir países, raças ou religiões.
A Grécia, sonho real, sobrevive a todos desenvolvimentos tecnológicos tendo como cúmplice, um povo simples, expontâneo, altivo, sem grandes pretensões mas com muita sede de vida.
Bonito é viver ao lado de quem é feliz sem o carro do ano, sem mansões, sem casacos de pele.
Bonito é sentir-se feliz dançando em seu próprio minúsculo quintal, sob um céu estrelado ao som de músicas que fazem ferver cada pedacinho do nosso corpo.
Delicioso é poder sentar-se ao lado dessa gente alegre que valoriza seu direito de gozar a vida.
Gente que goza a vida quando pode conversar com os amigos nas pracinhas ensolaradas, nos cafés, onde as árvores são testemunhas caladas de alegrias e dissabores.
Nem mesmo escravizado pelos otomanos durante quatro séculos, o povo helênico perdeu seu orgulho. Sua cabeça continua ereta. O simples lavrador, o simples cobrador de ônibus, o simples garçom, desconhece a palavra "inferioridade". Falam todos de igual para igual não se incomodando com as camadas sociais.
Não importa ter um carro velho, batendo pinos e mesmo com alguns arranhões. Importa sim, e muito, encher este carro com a família, os amigos e dirigir-se a qualquer praia. O mar cristalino e azul receberá com amor os ocupantes do velho carrinho, com o mesmo amor com que receberá  os "finos" passageiros das Mercedes do ano, dirigidas por motoristas particulares.
O mar límpido, o céu azul e as praias habitadas por pedrinhas coloridas não aprenderam a diferenciar a mão calejada do lavrador da mão macia do rico armador.
Quem não se emocionaria em passar alguns momentos, muitos momentos até, ouvindo velhas estórias contadas por algum singelo pescador perdido em alguma minúscula ilha do acolhedor Egeu?
Essa emoção  só teria como testemunhos o mar de um azul profundo e o céu claro servindo de teto e abrigo para as casinhas caiadas de um branco imaculado.
As ruelas estreitas que dividem as casinhas são armas de defesa lutando para manter os vizinhos unidos, amigos e participantes.
Sinto que estar na Grécia, viver ao lado desse povo de sangue inflamado, de muita fibra-que é confundida com grosseria pelos menos sensíveis- é ter o privilégio de se sentir livre, de evoluir espiritualmente, de participar de uma missão. Estar com esse povo é tentar resolver os problemas que afligem nossas almas e não a política mundial, a economia ou coisa que o valha.
Quando digo participar de uma missão, entendo que o ideal helênico sobrevive e continuará intocável sobrepondo-se a sentimentos menores de ambição, poder, egoísmo e competição.
O mesmo amor e sabedoria que recebemos dos helenos há milênios, poderão ser poderosas armas capazes de decepar mãos que tentam destruir o homem, não o corpo humano, o ser humano.
 Seria eu uma sonhadora naquela época????  Confesso que continuo acreditando em quase tudo que escrevi há algumas décadas atrás. Deve ser mesmo essa herança que não desgruda de mim! Bendita seja!




Trata-se de uma praia em kalamata,cidade do sul da Grécia,que fica em frente a um hotel de luxo.
É permitida a entrada de todos sem distinção e sem cobrança.
Existe uma taxa de 3 euros para alugar cadeira,guarda-sol e mesinha.



5 comentários:

  1. Com poucas palavras e vc, Εκάτη, nos transforma em seus leitores, hipnotizados por suas palavras...

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    1. Obrigada Gabriel.Fico feliz por ter gostado do texto.Volte sempre.Um abraço.

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  2. Amo a Grécia desde criança e cada vez que vou rever as montanhas,o mar,o céu e aquele mar azul, lembro do meu pai que nos meus 5 anos me presenteou com um livro ,que na capa estava ilustrado o Partenon. Nem preciso dizer que foi amor a primeira vista! E você com esta crônica me emocionou e me trouxe doces recordações e com elas a saudade do aroma da Grécia. Για μας

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  3. Parabéns, Tacia. Muito amor e admiração pela terra de suas raízes.

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