A casa número 1
Final da década de 70!
O casal de imigrantes gregos conseguiu construir sua "casa dos sonhos".
Na época , ambos bem sucedidos em seus empreendimentos após uns 20 anos de árduo trabalho, levantaram sua linda casa, num ótimo bairro da cidade de São Paulo, numa rua ainda cheia de casas residenciais, próximo à PUC.
Tudo planejado com capricho, mobiliado sob medida.
Não poderia faltar uma sala de estudos para os dois filhos: para mim e meu irmão Georgios.
As prateleiras foram preenchidas com todas as enciclopédias mais úteis na época, livros da Faculdade de Letras e Direito(meus) e os de Engenharia do meu irmão. Continuavam nas estantes os livros escolares, as principais obras literárias.
Meu pai instalou uma lousa enorme ,tomando uma parede, para estudarmos . Era onde meu mano fazia seus cálculos.
O tempo foi passando, os filhos se formaram e constituíram suas próprias famílias.
O quarto de estudos, nossa biblioteca, ficou meio abandonado, servindo de depósito. Essa imagem sempre me causou nostalgia e certa tristeza.
Na grande lousa ficou uma assinatura do meu pai que lá permaneceu até o final.
Depois que meus pais partiram dessa vida, mantivemos a casa número 1 como sempre foi. Tanto meu quarto quanto o do meu irmão continuaram como se nunca tivéssemos saído.
A sala de som do meu irmão ainda continuava sendo visitada por ele. Era um resto de vida no casarão.
As plantas do jardim eram molhadas e o pássaro que sempre costumava visitar minha mãe em vida, insistia em voltar.
Meu irmão o alimentava deixando frutas nas árvores.
O tempo foi passando e a exploração imobiliária invadiu toda a região. As casas e os sobradinhos foram sendo comprados , demolidos e lá iam surgindo enormes espigões.
Nossa casa de esquina aguentou o quanto foi possível.
Ela também foi engolida. Impossível manter um imóvel com altíssimas taxas de IPTU vazio .Foi vendido e lá já começaram a construir mais um espigão. Quando passo na frente, viro o rosto. Ainda dói!
O bairro todo está descaracterizado. As casas sumiram.
Confesso que é muito triste assistir a esse "dito" progresso.
Para nossa família, a construção física foi derrubada mas a vida que lá existiu, permanecerá para sempre em nossa memória, nos corações apertados.
Sabe aquela assinatura do meu pai na lousa?
Sabe aquelas plantas e o jardim da minha mãe? Fotografei num ato de desespero e de tentativa de perpetuar suas vidas, nossos momentos.
Dizem que assim é a vida! Se for só isso, eita vida besta!
Acredito na eternidade, um jeito mais leve de suportar o fechar de um ciclo.
O começo e o fim
Nossa sala de estudos lá em cima
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