sábado, 8 de agosto de 2015

O que em mim dele ficou







          Datas não são necessárias para nos lembrarmos das pessoas especiais em nossas vidas.
Servem ,de um jeito simbólico, para homenagearmos a quem nos é caro.
          Essa semana que termina amanhã, com o dia dos Pais, me deixou pensativa demais e buscando sinais do meu pai, que ficaram em mim.
          São tantos...e as lembranças então...
          Volto no tempo e sinto que a alegria, as brincadeiras, a música, a leitura, a gozação me remetem a ele, mais do que a minha mãe, uma mulher guerreira, amorosa mas contida.
          Ele, que trabalhou na gravadora Copacabana , na época, chegava em casa com pilhas de discos, aqueles bolachões, rotação 78.Alguém se lembra deles? Ainda tenho alguns em algum canto da casa dos meus pais. Assim a música sempre esteve presente na minha infância.Ele amava valsas, adorava a cantora Sarita Montiel, tangos os quais também tocava em seu acordeon. Sempre dançava comigo nas festinhas. Um dos presentes que marcaram minha infância, foi um simples radinho de pilhas azulzinho, que alegrava meus dias e servia de música de fundo para as minhas brincadeiras de casinha naquela cozinha de madeirinha, tão especial, que ele me dera.
          Livros? Sempre o via devorando o jornal do dia e seus gestos de bater nas folhas, de arrumar o jornal direitinho quando terminava ,estão presentes, cada vez que dobro o jornal direitinho como ele fazia. Lembro-me que ele tinha uma metalúrgica pequena e a sucata era vendida. Ao invés de receber em dinheiro , ele trocava por livros que o dono da sucata também vendia. Lá vinha ele com todas as coleções possíveis: Barsa, Delta Larousse, Mirador e o que fosse útil para mim. Até hoje há uma biblioteca cheia na casa dos meus pais que preciso doar mas ainda não tenho coragem. Prometo que não passa desse mês e os livros servirão a quem precisar.
          Nas reuniões do colégio, quem nunca faltou?O Sr. Xenophon! Ele entendia melhor o português e participava mais da minha vida no aspecto intelectual.Hoje me vejo repetindo o comportamento dele, sempre presente em tudo que diz respeito à minha filha.
          Que inveja que tenho até hoje da cultura geral que ele tinha.Sabia aquelas capitais todas de países que eu nunca ouvira falar, discorreria sobre história. Nisso, não tenho nada dele. Sou meio fraquinha em geografia e história.
          Tudo isso ele fazia mas sem nunca se esquecer de si. Um leonino orgulhoso, vaidoso, meio mandão mas com um coração doce. Chorão como eu. Quando assistíamos filmes na Tv, os olhos dele sempre brilhavam de emoção.
          O idioma grego me foi ensinado, desde pequena, por insistência dele em nunca falarmos em português. Usou uma cartilha para me ensinar o básico da língua grega que facilitou muito meu contato com minhas raízes e meus parentes da Grécia. O mesmo ele fez com minha filha que tem noções básicas também.
          Agora vou entregar minha idade. Íamos juntos às matinês do cine Metro na Avenida S.João assistir aos desenhos do Tom & Jerry! Pasmem, tinha que ir de terno e gravata.Um dia ele tirou os sapatos e depois custou para os acharmos no final da sessão(ele tinha mania de tirar o sapatos).
          Tenho muita dificuldade em romper elos ,o que, com certeza, herdei dele. Por isso sempre tento estar em contato com parentes de fora, com os amigos em geral porque acho uma pena não desfrutarmos disso enquanto podemos. Esse jeito de fazer amizades passou para meu irmão e para mim que logo começamos uma conversa com quem estiver por perto.
Já adolescente, eu dava aulas de inglês numa escola no centro da cidade.Ele me levava e ficava esperando até eu terminar. Era engraçado:alunos saindo e a professorinha sendo esperada pelo papai!
         Quando digo que ele foi peça principal na minha educação, lembro-me de horas e horas que ele passou me esperando terminar os exames “vestibulares” da vida .
         Garanto a vocês que dirijo bem, graças a ele também que, no início, ia comigo à faculdade(eu dirigindo) e voltava para me buscar até eu ficar craque e sair sozinha por essas avenidas doidas de S.Paulo.
Até minha contabilidade faço do jeitinho que ele fazia, nos cadernos, tudo organizado.
          Sinto mais falta do seu telefonema de “bom dia”, quando ele dizia:”Enquanto eu estiver aqui não tenha medo de nada”. Continuo ouvindo a mesma voz quando as coisas apertam e sei que ele me protege, lá de longe , de um lugar lindo que, certamente ele mereceu como morada eterna.
          Eu discorreria parágrafos e mais parágrafos mas ,em mim, é fácil sentir o que dele ficou.
Meus amigos mais próximos sabem e percebem isso e meu irmão querido fez um comentário a respeito, por esses dias.
          Claro que herdamos também seus defeitos mas esses, deixemos para lá.

          Vou terminado por aqui senão inundo o notebook.




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