Ícones
Cresci vendo
o cantinho de ícones do meu pai.
Mesmo que
não frequentasse a igreja todos os domingos, era um homem de fé.
Hoje, mesmo
depois de sua morte, ficaram seus ícones , iluminados por uma lâmpada
pequenina. Estão no sítio, onde era seu quarto.
Li um texto belíssimo
que fala sobre os ícones e resolvi mostrar a vocês o sentido dos mesmos.
Segundo
Jacques Lacarrière, “os ícones não são retratos. Jamais existiu retrato, representação
antiga crível de Cristo, da Virgem, dos apóstolos, dos santos ou dos mátires.
Foi preciso,
portanto, que mais tarde lhes dessem um rosto simbólico, que exprimisse o
sentido de sua vida, sua fé, seus milagres ou seu martírio.
Foi preciso
inventar o rosto dos anjos e arcanjos, de tal modo que a arte dos ícones
tornou-se a arte de representar o invisível. Códigos e técnicas precisas logo
tiveram que ser estabelecidos, para que o conjunto dessas figuras, habitantes
do Reino invisível , obedecessem às mesmas marcas de identidade.
Sim,
trata-se mesmo , desde o século IV de atribuir rosto, identidade e até mesmo o
curriculum vitae a milhares de santos, mártires e padres da igreja.
Isso tudo
confirma que o ícone nunca foi concebido ou considerado como obra de arte, mas
sim obra de fé, uma oração das mãos e do coração, que exige do monge pintor um
estado particular de pureza, graça e fervor.”
Hoje não são
só monges que pintam ícones. Há os pintores que seguem a técnica.
O ícone é
uma superfície pintada, lavrada- às vezes recoberta de prata-, um espelho onde
vêm se refletir milhares de habitantes do reino.
Segundo o
escritor, um monge do Monte Athos lhe explicou que a tradição impõe que se
termine um ícone pela pupila. Vimos, com Platão, Sócrates e Alcebíades, essa
famosa pupila transformar-se em espelho da alma. Reencontramos isso nos ícones,
nos quais ela é uma faísca vive, que indica a presença do santo.
Para nós,
que vemos os ícones como símbolo da fé, os mesmos podem deter poderosos
mistérios e poderes.
FONTE:
Jacques Lacarrière- Grécia , um olhar amoroso.
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