quarta-feira, 1 de março de 2023

CIGARRAS= tzitzikia ( em grego)

 


CIGARRAS= TZITZIKIA(em grego)

 

Desde a infância, sempre que eu vou à Grécia, país de minhas raízes, acabo visitando os parentes nos seus sítios. No verão muitas famílias viajam para a cidade natal, onde as famílias costumam ter seus olivais. O azeite consumido pelas famílias durante o ano provém de suas próprias oliveiras.

Faz muito calor no verão e, nos campos, se ouve um barulho intermitente que muitas vezes irrita os que não estão acostumados. São as cigarras. No singular se diz dzidzika, perfeita imitação do som emitido.

Quem poderia nos esclarecer sobre as cigarras é Platão que, numa passagem de Fedra, diz:

quando o canto das Musas se fez ouvir pela primeira vez na terra, os homens ficaram tão perturbados que se puseram a imitá-las a ponto de esquecerem de beber e comer. De tal modo que morreram antes mesmo de se darem conta. E deles nasceu a espécie das cigarras”.

Para os ouvidos de hoje , o canto das cigarras é mais repetitivo e monótono do que encantador. Mas os antigos gregos, evidentemente, não o escutavam com o mesmo ouvido: para eles, o canto das cigarras, longe de parecer lancinante, era portador de memória e, sobretudo, de mensagem. As cigarras eram as mensageiras das Musas da terra, e transmitiam aos deuses as homenagens que os homens lhes rendiam. Seu canto, que é emitido ao meio-dia, quando calor e a luz tornam o sol um braseiro vivo, era um canto de vigilância, dizendo, de certo modo, ao homem: “Desperta, acorda, desperta, acorda...”

Ruidosas, é certo, até enervantes, mas também vigilantes e mesmo professoras, para os gregos estas eram a natureza e a razão de ser das cigarras.

Conheci esse lado interessante do “dzidzicas”, através de um livro maravilhoso que me foi presenteado por um amigo, amante da Grécia: “Um olhar amoroso”, de Jacques Lacarrière.

Lendo o texto sobre cigarras me veio à lembrança o quanto esse barulhinho me irritava mas, hoje, sinto falta.

 Fonte: "Grécia, um olhar amoroso"- Jacques Lacarrière

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