CIGARRAS= TZITZIKIA(em
grego)
Desde a
infância, sempre que eu vou à Grécia, país de minhas raízes, acabo visitando os
parentes nos seus sítios. No verão muitas famílias viajam para a cidade natal,
onde as famílias costumam ter seus olivais. O azeite consumido pelas famílias
durante o ano provém de suas próprias oliveiras.
Faz muito
calor no verão e, nos campos, se ouve um barulho intermitente que muitas vezes
irrita os que não estão acostumados. São as cigarras. No singular se diz dzidzika,
perfeita imitação do som emitido.
Quem poderia
nos esclarecer sobre as cigarras é Platão que, numa passagem de Fedra, diz:
“quando o
canto das Musas se fez ouvir pela primeira vez na terra, os homens ficaram tão
perturbados que se puseram a imitá-las a ponto de esquecerem de beber e comer.
De tal modo que morreram antes mesmo de se darem conta. E deles nasceu a
espécie das cigarras”.
Para os
ouvidos de hoje , o canto das cigarras é mais repetitivo e monótono do que
encantador. Mas os antigos gregos, evidentemente, não o escutavam com o mesmo
ouvido: para eles, o canto das cigarras, longe de parecer lancinante, era portador
de memória e, sobretudo, de mensagem. As cigarras eram as mensageiras das Musas
da terra, e transmitiam aos deuses as homenagens que os homens lhes rendiam.
Seu canto, que é emitido ao meio-dia, quando calor e a luz tornam o sol um
braseiro vivo, era um canto de vigilância, dizendo, de certo modo, ao homem: “Desperta,
acorda, desperta, acorda...”
Ruidosas, é
certo, até enervantes, mas também vigilantes e mesmo professoras, para os
gregos estas eram a natureza e a razão de ser das cigarras.
Conheci esse
lado interessante do “dzidzicas”, através de um livro maravilhoso que me foi
presenteado por um amigo, amante da Grécia: “Um olhar amoroso”, de Jacques Lacarrière.
Lendo o
texto sobre cigarras me veio à lembrança o quanto esse barulhinho me irritava
mas, hoje, sinto falta.
Fonte: "Grécia, um olhar amoroso"- Jacques Lacarrière
Nenhum comentário:
Postar um comentário