Datas não são necessárias para nos lembrarmos das pessoas
especiais em nossas vidas.
Servem ,de um jeito simbólico, para homenagearmos a quem nos
é caro.
Essa semana que termina amanhã, com o dia dos Pais, me
deixou pensativa demais e buscando sinais do meu pai, que ficaram em mim.
São tantos...e as lembranças então...
Volto no tempo e sinto que a alegria, as brincadeiras, a
música, a leitura, a gozação me remetem a ele, mais do que a minha mãe, uma
mulher guerreira, amorosa mas contida.
Ele, que trabalhou na gravadora Copacabana , na época,
chegava em casa com pilhas de discos, aqueles bolachões, rotação 78.Alguém se
lembra deles? Ainda tenho alguns em algum canto da casa dos meus pais. Assim a
música sempre esteve presente na minha infância.Ele amava valsas, adorava a
cantora Sarita Montiel, tangos os quais também tocava em seu acordeon. Sempre
dançava comigo nas festinhas. Um dos presentes que marcaram minha infância, foi
um simples radinho de pilhas azulzinho, que alegrava meus dias e servia de
música de fundo para as minhas brincadeiras de casinha naquela cozinha de
madeirinha, tão especial, que ele me dera.
Livros? Sempre o via devorando o jornal do dia e seus gestos
de bater nas folhas, de arrumar o jornal direitinho quando terminava ,estão
presentes, cada vez que dobro o jornal direitinho como ele fazia. Lembro-me que
ele tinha uma metalúrgica pequena e a sucata era vendida. Ao invés de receber
em dinheiro , ele trocava por livros que o dono da sucata também vendia. Lá
vinha ele com todas as coleções possíveis: Barsa, Delta Larousse, Mirador e o
que fosse útil para mim. Até hoje há uma biblioteca cheia na casa dos meus pais
que preciso doar mas ainda não tenho coragem. Prometo que não passa desse mês e
os livros servirão a quem precisar.
Nas reuniões do colégio, quem nunca faltou?O Sr. Xenophon!
Ele entendia melhor o português e participava mais da minha vida no aspecto
intelectual.Hoje me vejo repetindo o comportamento dele, sempre presente em
tudo que diz respeito à minha filha.
Que inveja que tenho até hoje da cultura geral que ele
tinha.Sabia aquelas capitais todas de países que eu nunca ouvira falar,
discorreria sobre história. Nisso, não tenho nada dele. Sou meio fraquinha em
geografia e história.
Tudo isso ele fazia mas sem nunca se esquecer de si. Um
leonino orgulhoso, vaidoso, meio mandão mas com um coração doce. Chorão como
eu. Quando assistíamos filmes na Tv, os olhos dele sempre brilhavam de emoção.
O idioma grego me foi ensinado, desde pequena, por insistência
dele em nunca falarmos em português. Usou uma cartilha para me ensinar o básico
da língua grega que facilitou muito meu contato com minhas raízes e meus
parentes da Grécia. O mesmo ele fez com minha filha que tem noções básicas
também.
Agora vou entregar minha idade. Íamos juntos às matinês do
cine Metro na Avenida S.João assistir aos desenhos do Tom & Jerry! Pasmem,
tinha que ir de terno e gravata.Um dia ele tirou os sapatos e depois custou
para os acharmos no final da sessão(ele tinha mania de tirar o sapatos).
Tenho muita dificuldade em romper elos ,o que, com certeza,
herdei dele. Por isso sempre tento estar em contato com parentes de fora, com
os amigos em geral porque acho uma pena não desfrutarmos disso enquanto
podemos. Esse jeito de fazer amizades passou para meu irmão e para mim que logo
começamos uma conversa com quem estiver por perto.
Já adolescente, eu dava aulas de inglês numa escola no
centro da cidade.Ele me levava e ficava esperando até eu terminar. Era
engraçado:alunos saindo e a professorinha sendo esperada pelo papai!
Quando digo que ele foi peça principal na minha educação,
lembro-me de horas e horas que ele passou me esperando terminar os exames
“vestibulares” da vida .
Garanto a vocês que dirijo bem, graças a ele também que, no
início, ia comigo à faculdade(eu dirigindo) e voltava para me buscar até eu
ficar craque e sair sozinha por essas avenidas doidas de S.Paulo.
Até minha contabilidade faço do jeitinho que ele fazia, nos
cadernos, tudo organizado.
Sinto mais falta do seu telefonema de “bom dia”, quando ele
dizia:”Enquanto eu estiver aqui não tenha medo de nada”. Continuo ouvindo a
mesma voz quando as coisas apertam e sei que ele me protege, lá de longe , de
um lugar lindo que, certamente ele mereceu como morada eterna.
Eu discorreria parágrafos e mais parágrafos mas ,em mim, é
fácil sentir o que dele ficou.
Meus amigos mais próximos sabem e percebem isso e meu irmão
querido fez um comentário a respeito, por esses dias.
Claro que herdamos também seus defeitos mas esses, deixemos para
lá.
Vou terminado por aqui senão inundo o notebook.
Como fica fácil te entender ao ler atentamente todas as qualidades de seu pai e que pai presente diga-se de passagem. Fico imaginando o orgulho dado a este pai que viu em sua filha uma fiel cópia reproduzida. A de destacar que a repetição no quesito emocional com certeza é a mais importante já que segundo estudos pessoas que se emocionam facilmente são as mais humanas, entendem melhor a dor do próximo e são muito mais solícitos. Que tudo herdado de seu pai permaneça em você pois tantas qualidades não devem se perder ao tempo. Difícil ver uma filha que reconheça a importância dos seus para construção de seu caráter e história, parabéns!!!
ResponderExcluirObrigada anônima amiga!
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